1898 - Catulo da Paixão Cearense, poeta do sertão
Catulo da Paixão Cearense, poeta do sertão
Nascendo cumo tinguí,
fui ruim cumo piranha,
mais pió que sucuri.
véve a gente a campiá! ...
Deus fez o hôme, sá dona,
prá vivê sêmpe a lutá.
e eu fui timíve tômbém!
O pinto já sai do ovo
cum a pinta que o galo tem.
havéra de eu tá na tóca,
a rapá no caitetú
a massa da mandioca?!
pissuindo carne e caroço,
eu nunca vi cabra macho
que fizesse sobrôço!
imbaixo de tejupá! ...
Nasci para viver na terra,
viver nos muros ... por
lá longe do rancho,
purriba duns gravatá ...
vendo uma lua pula foia
d'um férmoso iriribá!
Nos gaio da umarizêra,
o cantá do sanhassú;
na praia triste da noite,
ou no meio do povo ...
como tuada da cabana,
lavando na água do rio,
e os cantos, prú via dela,
nos samba .. nenhum disafio ...
nada disso, não, sá dona,
me dava satisfação
cumo ou mugido bravio
dos valente barbatão!
já vivia e falava do amor:
todas as boca diziam
que era distante e mataram!
"Panorama da Poesia Brasileira - Fernando Góes, Editora Civilização Brasileira, 1960"
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