1946 - Göring e o Processo de Nuremberg

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1946 - Göring e o Processo de Nuremberg
1946 - Göring e o Processo de Nuremberg

Göring e Alfred Rosenberg comendo em sua cela durante o processo de Nuremberg.

Göring foi levado para Mondorf-les-Bains, no Luxemburgo, para um local de prisioneiros de guerra temporários, no Hotel Palácio. Aqui, foram-lhe retirados os comprimidos de codeína – ele tomava o equivalente a entre 260 a 320 mg de morfina por dia — e imposto um rígido regime de dieta; perdeu 27 quilos. Outros oficiais nazis de topo foram transferidos em setembro para Nuremberga, que seria o local de uma série de tribunais militares, que começariam em novembro.

Göring era o segundo oficial com o posto mais alto, julgado em Nuremberga, logo a seguir ao presidente do Reich (anterior almirante), Karl Dönitz. A acusação apontou quatro crimes, incluindo um de conspiração; um de guerra de agressão; crimes de guerra, onde se incluía a pilhagem e o roubo de obras de arte, e outros bens; e crimes contra a humanidade, incluindo o desaparecimento de políticos e outros oponentes sob o decreto Nacht und Nebel ("Noite e Nevoeiro"); tortura e falta de tratamento médico de prisioneiros de guerra; e o assassinato e escravatura de civis, como os 5 700 000 de judeus (número estimado). Sem permissão para um discurso, Göring declarou-se "não culpado das acusações apresentadas". O julgamento teve uma duração de 218 dias; a acusação apresentou as suas alegações entre novembro e março, e a defesa de Göring — a primeira a ser apresentada — entre 8 e 22 de março. As sentenças foram lidas no dia 30 de setembro de 1946.

Göring, forçado a manter silêncio, comunicou as suas opiniões usando gestos, abanando a sua cabeça ou rindo. Tomava notas de forma contínua, murmurava com os outros réus e tentava controlar o comportamento instável de Hess, sentado a seu lado. Durante os intervalos no processo, Göring tentou dominar os outros réus e acabou sendo isolado dos outros quando tentou influenciar o seu testemunho.

Em entrevistas na prisão com o psiquiatra Leon Goldensohn, Göring refletiu sobre a ascensão do nazismo, repisou a tese da inferioridade de outros povos, como os russos, e declarou ser o maior opositor do comunismo na Alemanha. O capitão Gustave Gilbert, um oficial e psicólogo americano de informações, que falava alemão, entrevistou Göring e os outros na prisão durante o julgamento. Gilbert tinha um diário, que mais tarde publicaria com o título de Nuremberg Diary. Neste livro, Gilbert descreve Göring, na noite de 18 de abril de 1946, quando o julgamento foi interrompido, por três dias, durante a Páscoa:

Suando na sua cela, à noite, Göring estava na defensiva, enfraquecido e pouco contente com a direção que o julgamento estava tomando. Ele disse que não tinha controle nas ações ou na defesa dos outros, e que ele próprio não era antissemita, não acreditava nas atrocidades e que vários judeus tinham se oferecido para testemunhar a seu favor.
Em várias ocasiões no decurso do julgamento, a acusação exibiu filmes dos campos de concentração nazistas e de outras atrocidades. Todos os presentes acharam as imagens chocantes, incluindo Göring; ele afirmou que os filmes deviam ser falsos, mas ninguém acreditou. Testemunhas, como Paul Koerner e Erhard Milch, tentaram descrever a personalidade de Göring como pacífica e moderada. Milch referiu que era impossível opor-se a Hitler ou desobedecer às suas ordens; se o fizesse, seria executado, ou alguém da sua família também o seria.

Quando testemunhou a seu favor, Göring expressou a sua lealdade para com Hitler e insistiu que não sabia nada sobre o que tinha acontecido nos campos de concentração, que estavam sob a supervisão de Himmler. As suas respostas eram complexas e evasivas e tinha desculpas plausíveis para todas as suas ações durante a guerra. Utilizou o banco de testemunhas como um local para expor, de forma prolongada, o seu próprio papel no Reich, numa tentativa de se mostrar como um pacificador e diplomata antes do início da guerra.

Durante o interrogatório, o responsável pela acusação, Robert H. Jackson, leu, em voz alta, o relatório de uma reunião havida pouco antes da Noite dos Cristais', uma enorme pogrom, em novembro de 1938. Nessa reunião, Göring propôs roubar os bens dos judeus no início do pogrom.Mais tarde, David Maxwell Fyfe provou que era impossível que Göring não tivesse conhecimento dos assassinatos de Stalag Luft III — a execução de 50 aviadores que tinham sido recapturados depois de fugirem de Stalag Luft III — a tempo de os ter evitado.[108] Também apresentou provas em como Göring sabia do extermínio dos judeus húngaros.

Göring no julgamento de Nuremberg

Göring foi considerado culpado nas quatro acusações, sendo condenado à morte por enforcamento. A sentença referiu:

Nada há a dizer para atenuar a acusação. Göring era, quase sempre, a força mobilizadora, logo a seguir ao seu líder. Ele era o elemento agressor principal, tanto como político como líder militar; ele era o director do programa de trabalho com escravos e o criador do programa opressivo contra os judeus e outras raças, tanto na Alemanha como fora do país. Todos estes crimes foram por ele admitidos. Em algumas situações mais específicas, poderá ter havido alguma contradição no testemunho, mas, em termos gerais, o que ele admitiu é mais do que suficiente para concluir da sua culpa. A sua culpa é única na sua enormidade. Os registos revelam que não há qualquer desculpa para este homem.

Göring pediu para ser executado como um soldado em vez de enforcado como um vulgar criminoso, mas o tribunal recusou. Desafiando a sentença imposta pelo tribunal, suicidou-se com uma cápsula de cianeto de potássio na noite anterior a ser enforcado. Uma teoria sobre a forma como Göring obteve o veneno envolve Jack G. Wheelis, tenente do exército norte-americano que estava prestando serviço no julgamento, e que teria retirado a cápsula dos bens confiscados a Göring pelo Exército. Em 2005, um soldado veterano, Herbert Lee Stivers, que tinha prestado serviço no 26.º Regimento de Infantaria da 1.ª Divisão de Infantaria dos Estados Unidos — a guarda de honra dos Julgamentos de Nuremberga — afirmou ter dado um "medicamento" a Göring, dentro de uma caneta de tinta permanente, que uma mulher lhe tinha pedido para fazer entrar na prisão.

O corpo de Göring foi exposto no local da execução para que fosse visto pelas testemunhas das execuções. Os corpos foram cremados e as cinzas espalhadas em um rio desconhecido na Alemanha.